Relatório sobre a Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico
Querida Dra Érika;
Faz um ano que tive o surto de pânico e gostaria que a senhora lesse meu relato, para que possa ajudar e orientar melhor outros pacientes que vierem a ter o mesmo problema no futuro. Pois, acredito que essas informações lhe ajudarão a ter um novo olhar sobre a doença. Dia 13/04/2013, era uma sexta-feira, eu estava exausta, cheguei em casa normalmente, com meu filhinho Estevão, que na época estava com 11 meses de idade, a casa estava bagunçada, meu ex-marido estava esparramado do sofá de short e eu não estava comendo direito à 2 semanas de tanto serviço e correria. De repente, senti um cansaço fora do normal. Meu filho queria mamar, eu piorei, estava cada vez mais fraca e pedi ajuda para o pai dele fazer a janta, mas ele demorou demais a começar a fazer. Me irritei, sentei na sala com o bebê e de repente, o barulho da TV, do micro-ondas, das panelas e do ambiente me deixavam cada vez mais esgotada. Senti a sensação de tudo girar, pensei que o apartamento poderia explodir, mas lutei contra este pensamento. Mas, ele voltava com força. Então, resolvi tomar um remédio para o estômago pois ele doía muito, era uma sensação horrível, comi alguma coisa na geladeira, mas o nervoso não passava. Meu ex-marido nos colocou no carro e fomos até a drogaria de costume e ele comprou um remédio normal. Mas, eu piorei, comecei a sentir uma aceleração do peito, e o medo de tudo explodir aumentava, cada vez mais. De repente, senti uma sensação de morte se aproximando com uma força maior.
(Portanto, sou espírita e nasci espírita e nunca tive medo de morrer antes na minha vida, por questões filosóficas, e meu cérebro entrou em um conflito interno enorme contra tudo o que eu acreditava. Veio uma confusão mental enorme, entre o meu ser e o meu estar no corpo. Todas as minhas crenças se misturavam, toda a minha noção de lógica se desmoronava, e eu lutava intimamente para me controlar e não deixar minha família em pânico).
Então, resolvi chamar meu pai. Mas ao olhar o carro preto dele, entrei em pânico. Sentia um medo enorme de entrar lá, e no nosso carro de família também. Senti uma sensação de morte eminente. Como se uma bomba relógio tivesse sido depositada em meu cérebro, abracei meu filhinho, abracei uma árvore que tinha embaixo do prédio e tudo se confundia ao meu redor. Eu comecei a rezar, senti vontade de cantar (porque isso me alivia quando estou tensa em casa) e depois disso tudo, e muito esforço, meu pai e meu ex-marido me colocaram no carro e fui para casa de meus pais com a família.
Depois que tomei a medicação, ainda senti muita variação mental, por mais ou menos um mês. Todos os meus conceitos sobre vida e morte estavam embaralhados na minha mente. E, pela primeira vez, comecei a acreditar em coisas que eu não acreditava, como juízo final, inferno, demônios, diabo e coisas do tipo. Duas semanas antes do surto, eu estava meio confusa sobre essas questões. Pois, na minha religião, que é também filosófica e científica, acreditamos que somos espíritos eternos, e temporariamente nascemos e vivemos em um corpo físico, por necessidade de aprendizado, depois morremos, que é uma coisa natural e programada da natureza e por Deus. Assim, devemos morrer quando terminamos nossas tarefas e missões neste mundo e podemos nascer em outros mundos se precisarmos de outros tipos de aprendizado. Assim como podemos voltar a este mundo em um outro tempo para vivenciar outros tipos de experiências que nos agreguem valores espirituais e etc.
Desta forma, sempre fui muito bem resolvida nesta parte da minha vida filosófica. Eu sempre soube quem eu sou, de onde vim e para onde vou. Um espírito eterno, livre e em aprendizado constante. Mas, depois dessa doença, aprendi uma coisa muito importante que gostaria de compartilhar com você. Aprendi a viver o hoje, o agora, e aprendi a estar com as pessoas, principalmente, às que considero importantes na minha vida. Separei-me, porque não sentia mais o mesmo amor pelo meu ex-marido, e resolvi que viveria de forma diferente, sem apego a bens materiais, aparências ou uma condição que estava me causando sofrimento há muitos anos.
Hoje, depois de um ano desse verdadeiro suplício psicológico que sou o transtorno do pânico, não tenho mais medo de viver, nem de morrer. Às vezes tenho a sensação de que tudo pode acabar, mas, depois de umas terapias muito boas de mentalização psíquica, aprendi a respirar fundo e dizer, se tudo acabar agora, estou feliz. E aprendi a estar feliz agora, me desligar até do ser que mais amo no mundo, que é meu filho, tornei minha vida mais leve. Continuo assumindo responsabilidades, trabalhando, dirigindo, ajudando as pessoas, mas antes disso tudo, aprendi a me ajudar. Se tenho vontade de caminhar, caminho. Se tenho vontade de sair, eu saio. Se tenho vontade de dormir, eu durmo. Se quero comprar uma roupa nova, compro. E assim, minha vida está melhor. Meus amigos e colegas de trabalho reparam todos os dias o meu sorriso e me elogiam, como eu supero tudo na maior alegria. Acordo alegre e tento dormir alegre. Agradecida por mais um dia. Às vezes choro só de lembrar como tudo isso foi dolorido no começo, mas agora, quando escrevo com calma, me emociono da pessoa melhor que me tornei. Eu precisava passar por isso para dar valor às pessoas, viver com menos pressa, tocar no ombro de um amigo e ouvi-lo, olhar no fundo do olho das pessoas com mais amor, carinho e respeito. Porque eu aprendi, que no fim de tudo, é isso que importa. Se eu morrer agora, é isso que importou na minha vida. E por isso, relato um enorme agradecimento a você, por ter me tratado, pois os medicamentos me ajudam muito. Consigo ter equilíbrio para viver um dia de cada vez, mesmo que o mundo inteiro me sufoque com problemas e explosões de toda sorte.
Paciente: Emmanuela Barros de Almeida
e-mail: emmanuela.sejusdf@gmail.com
(61)8246-4084
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